sexta-feira, 31 de julho de 2009


terça-feira, 28 de julho de 2009

Sérgio Viotti


Sérgio Luiz Viotti nasceu em São Paulo, em 14 de março de 1928.


Ator, escritor, diretor, tradutor, dramaturgo, produtor de programas culturais radiofônicos, crítico de teatro, dança e ópera.


Foi para o Rio de Janeiro em 1945, para fazer a Escola Itamarati.


Estudou piano até os 14 anos de idade, e, já no Rio de Janeiro, ia com amigos músicos participar de programas musicais na Rádio MEC, apenas para virar as páginas para os concertistas Heitor, Maria Abreu e Laís de Souza Brasil.


Começou a trabalhar em Rádio em 1958, no Rio de Janeiro.

Trabalhou na Inglaterra, onde fez rádio na BBC durante quase nove anos. Voltou para o Brasil e foi trabalhar na Rádio MEC, fazendo radioteatro com, dentre outros, Magalhães Graça e Agnes Fontoura.


Viotti começou a fazer novelas em 1986, com destaque para personagens em “Sinhá Moça”, “Corpo Santo”, “Kananga do Japão”, “Despedida de Solteiro”, “Meu Bem Meu Mal”, “Anjo Mau”, “Suave Veneno”, “Os Maias”, “A Casa das Sete Mulheres” e “Um Só Coração”. Ao comemorar seus trinta anos de palco como ator, em 1991, apresentou o espetáculo “As Idades do Homem”, no qual interpretava nada menos do que dezesseis personagens de Shakespeare.


Como de crítico de teatro, dança e ópera, trabalhou no jornal Estado de São Paulo (1969/71) e no Jornal da Tarde (1976 e 1983).


Como romancista, fez E Depois, no Exílio (Edições Bloch), lançado em 68, que lhe valeu o Prêmio Walmap, concorrendo com outros 143 escritores.


Em 1995, lançou A Cerimônia da Inocência (Top Books) e, em 2001, a biografia da atriz Dulcina de Morais (1908/96) e a Fuga do Escorpião.


Em 2006 e 2007 apresenta-se no teatro com a peça "O dia que raptaram o papa", de João Bethencourt e, também em 2007, participa da novela "Duas Caras", da TV Globo.


Sérgio Viotti morreu, aos 82 anos, na manhã do dia 26 de julho de 2009 em decorrência de uma parada cardiorrespiratória, em São Paulo. De acordo com o comunicado divulgado pelo Hospital Samaritano, o ator estava internado desde o dia 19 de abril. Ele tinha sofrido uma parada cardíaca durante a festa de casamento do filho da escritora Maria Adelaide Amaral.


Fontes: Sites Diversos de Teatro, Globo, Captura de imagens (Youtube); Globo; Terra.

sábado, 18 de julho de 2009

Minissérie de TV mostra os bastidores do universo teatral


Sobram divergências em relação à verossimilhança e à fidelidade do universo do teatro representado no seriado

Toda caricatura é sempre uma oportunidade para reflexão. Dependendo da combinação de tintas, diferentes características são ressaltadas. Para que elas funcionem aos olhos de quem as contempla, é preciso que os defeitos e qualidades sejam ilustrados com certo exagero. É dessa maneira que os personagens do meio teatral têm encarado a minissérie "Som&Fúria", que estreou na Rede Globo no último dia 7: como um retrato romantizado e exagerado da classe. É um exercício de metalinguagem, o "povo" do teatro ilustrando o próprio ofício, ao mesmo tempo doloroso e prazeroso. Afinal, artistas são "a síntese e a crônica da humanidade", como diz o próprio Shakespeare, numa das falas de Hamlet.

Se por um lado, atores, diretores e produtores são unânimes em elogiar a qualidade da atuação dos personagens, e da direção e adaptação de Fernando Meirelles, por outro, sobram divergências em relação à verossimilhança e à fidelidade do universo do teatro representado no seriado. "É um luxo enorme termos um Shakespeare, as agruras de uma companhia de teatro e os tormentos dos atores exibidos na TV aberta. A série é crível e pertinente, mas não condiz com a realidade do País", diz o diretor Gabriel Villela, que já montou o espetáculo "Romeu e Julieta", de William Shakespeare, no Globe Theatre, teatro construído em 1599, que abrigava as peças do autor inglês em Londres.

A falta de compatibilidade do seriado com os parâmetros brasileiros ocorre justamente pelo fato de não termos aqui uma companhia integralmente estatal. "A representação dos pequenos grupos de teatro é fiel. Mas o conflito entre os menores e aquela companhia fixa do Municipal é arbitrário. Esse pêndulo não existe", confirma a crítica teatral Barbara Heliodora, uma das mais respeitadas especialistas e tradutoras das peças de Shakespeare no Brasil.

"Som&Fúria", dividido em 12 capítulos, é uma adaptação tropicalizada do seriado canadense "Slings&Arrows", concebido originalmente em 2003. Na série brasileira, que tem como pano de fundo a obra de Shakespeare, Oliveira (Pedro Paulo Rangel), um diretor decadente de uma companhia de teatro patrocinada pelo Estado, com sede no Teatro Municipal de São Paulo, morre atropelado por um caminhão frigorífico, lotado de presuntos, e, mergulhado no universo de Hamlet, passa a assombrar o novo diretor Dante (Felipe Camargo), então tutor de uma minúscula trupe que luta para não fechar as portas.

Se existe uma certa dificuldade para as pessoas que vivem o teatro conceberem uma companhia estatal aqui no Brasil, não se pode dizer o mesmo da tentativa do seriado de revelar ao público a diversidade do cotidiano que envolve a profissão. Surtos de estrelismos do diretor, cancelamentos de ensaios, fofocas e intrigas dentro do próprio elenco e conflito de egos. "É interessante para as pessoas verem como funciona esse universo, mesmo que as relações e os conflitos sejam apresentados de forma romantizada. Uma reflexão que o próprio teatro precisa fazer", diz o diretor Sérgio Ferrara. "É uma comédia inteligente, que vai de encontro à curiosidade das pessoas em relação aos bastidores. Acaba por mostrar que não vivemos em camarins cheios de plumas, e que tal atriz não pode ser incomodada por estar se concentrando", completa a atriz Denise Fraga.

Outro aspecto, abordado em forma de alegoria, é a falta de verba de pequenos grupos - em oposição às grandes companhias, cujos diretores artísticos vendem a arte como um mero produto. Enquanto alguns personagens alimentam o sonho de viver o teatro como um ofício essencialmente artístico, caso da jovem Kátia (Maria Flor), outros, como o inoperante diretor financeiro da companhia do Municipal, Ricardo da Silva (Dan Stulbach), manipulado por Graça (Regina Casé), buscam fazer dos palcos uma fábrica de dinheiro. "Infelizmente nós não temos uma companhia estável e fixa como a do seriado. Mas serve para recuperar uma discussão saudável sobre essa espécie de funcionalismo público que não é nada bom para o teatro", diz Sandra Corveloni, atriz de teatro , vencedora do prêmio de melhor atriz de cinema no Festival de Cannes ("Linha de Passe").

A discussão levantada por "Som&Fúria" em relação ao dilema vivido por muitos atores e diretores remete à famosa frase de Bertolt Brecht: "Primeiro vem o estômago, depois a moral." Diante da dificuldade e das condições extremas enfrentadas pelos que tentam fazer teatro no Brasil, muitos profissionais da área se identificam com o seriado e com a frase de Brecht por já terem se deparado com a encruzilhada de optar por exercer a arte em sua essência ou seguir pelo caminho mais fácil e se vender às demandas das tendências comerciais. "O retrato das pequenas companhias, que lutam feito loucas para sobreviver, é fiel. A crise econômica vai ajudar a separar o joio do trigo. Quem não quiser fazer teatro de verdade vai acabar pulando fora", diz Barbara Heliodora.

Heliodora tem sido, ao lado Gerald Thomas, alvo de muitos comentários no meio artístico. Os personagens Oswald Thomas (Antonio Fragoso) e Bárbaro (Ary França) são referências claras ao diretor e à crítica teatral. "Essa história de atirar na direção de A, B ou C não tem relevância para o desenvolvimento da trama. A tradução das peças é horrível, com uma linguagem sem elegância, mas acho que eles têm se saído bem. A série é positiva, tem me agradado", comenta Heliodora.

É na verdade o que se vê na minissérie, já que a obra de Shakespeare serve como uma cama para os atores esparramarem suas intrigas e angústias, a exemplo de Hamlet. Tanto o título em português, "Som&Fúria", quanto o em inglês, "Slings&Arrows" (Pedradas e Flechadas), ambos extraídos de solilóquios shakespearianos, resumem à perfeição as mazelas do universo teatral. "Não sei se atualmente é assim, mas quando eu comecei nesta carreira, em 1964, tinha muito disso, havia fofocas e passadas de perna", lembra a atriz Beatriz Segall. "Os climas, os ensaios são bem reproduzidos, o cotidiano dos atores ali representado é muito real", complementa o produtor de teatro Germano Baía, que, durante anos, foi o "braço direito" do ator Paulo Autran.
As belas atuações de Felipe Camargo - que renasce após um longo período de ostracismo -, Andréa Beltrão e Daniel de Oliveira contribuem para que o público, como se adentrasse as coxias do Municipal, possa ter contato com o aspecto humanista da atividade teatral, conhecendo o lado complexo e difícil de uma profissão cercada por uma aura de luxo e celebração. "É a melhor obra que já vi na TV sobre o cotidiano dos atores, uma grande contribuição para mostrar essa forma de arte", diz o dramaturgo Alcione Araújo.

"Som&Fúria" escancara manias, patologias e incompletudes dos artistas do teatro, estimulando a reflexão sobre o ofício, como se estivessem diante de um espelho que há muito não contemplavam. Mesmo sendo "um seriado sobre teatro, dirigido por um diretor de cinema, que é transmitido na televisão", como declarou o ator Pedro Paulo Rangel após o lançamento de "Som&Fúria", a minissérie se destaca por ser voltada para o público leigo. "Gosto da linguagem do Meirelles porque prevê o espectador, não é apenas uma piração egocêntrica de um cineasta", destaca o diretor Gabriel Villela. Embora o seriado tenha registrado índices de audiência abaixo do esperado - em parte pelo horário ingrato que lhe é reservado na grade - seria interessante ver o universo teatral e a obra de Shakespeare representados na televisão aberta em novas temporadas de "Som&Fúria", seguindo os passos de "Slings&Arrows".

(Fonte: Bem Paraná, O Portal Paranaense.)

sábado, 4 de julho de 2009

Exercício para o ator: Fazendo o papel de "louco"

NECESSIDADES - colocar um máximo de 8 a 9 cadeiras em semicírculo para acomodar os alunos que farão o exercício. Qualquer membro do grupo que tenha antecedentes com relação a problemas mentais deve se sentir livre para fazer o exercício ou não. Os demais alunos, que vão apenas observar a ação, devem atentar para a teatralidade e a veracidade dos desempenhos. Ocasionalmente, tanto neste como no exercício onde o aluno se faz de bêbado, a veracidade da situação e o efeito teatral são necessariamente iguais, isto é, um bêbado verdadeiro, carregado de álcool, pode não ter nenhum "efeito teatral", e, por outo lado, igualmente, "um louco de palco" não tem - nem precisa ter - similaridade com o paciente internado ou o paciente em surto. Assim, por exemplo, o filme Um estranho no ninho contém uma série de liberdades dramáticas - ou licenças poéticas, como queiram - que conferem um "tom teatral" que parece "verdadeiro", e que não são encontráveis em pacientes verdadeiramente neuróticos e/ ou psicóticos. Drama é conflito, não é fato científico. Lembrem-se daquela anedota do concurso para ver quem imitava melhor o grunhido do porco, onde um esperto candidato escondeu um porquinho sob a capa no afã de ser vitorioso e...perdeu.

PROCEDIMENTO - após os participantes terem escolhido seus assentos, um outro ator é escolhido para fazer o papel do "analista". Sua tarefa será a de manter a reciprocidade entre os problemátiocos pacientes, encorajando-os a se relacionar entre si em termos reais. O "analista" deve denunciar todos os comentários "ilógicos" proferidos, procurar fazer os pacientes explicarem seus problemas, sempre questionando as incoerências. Mas cuidado: nada de sucumbir à tentação de dar ordens ou julgar os pacientes! Sua função no exercício é basicamente catalisadora. Os participantes, por sua vez, devem escolher uma das seguintes motivações para servir de base às suas improvisações. Estas "motivações" devem funcionar como uma espécie de "roteiro" ou "fio condutor". Assim, os atores devem escolher um dos seguintes objetivos:

1) Eu preciso mostrar aos outros o humor que nos cerca e que está em tudo que é dito.

2) Eu preciso encontrar uma palavra que rime com tudo que disserem.

3) Eu quero impressionar a todos mostrando como sou inteligente e normal, e como eu vejo tão bem, de modo tão claro, os problemas dos outros.

4) Eu tenho que evitar infecções por germes e o suor das outras pessoas, e para isso me abstenho de qualquer contato físico.

5) As faces das pessoas que me olham parecem se distorcer. Por quê?

6) Todas as pessoas estão mentindo. Por quê?

7) Eu quero ficar aqui sentado, sem qualquer responsabilidade e sem me aborrecer com nada deste mundo.

8) Eu tenho de provar aos outros que a reza é a única resposta para todos os males.

9) Eu estou inventando um sistema numérico que aplicado às palavras dos outros, vai me permitir saber se eles estão falando a verdade ou não.

10) Eu quero saber por que fico sempre tão nervoso, e por que esta úlcera que eu tenho não acaba nunca.

11) Eu vivo triste, tudo me deixa deprimido.

DISCUSSÃO - algum membro do grupo forçou a situação para parecer "louco"? Quem estava de fato abordando seus objetivos honesta e economicamente? O envolvimento de cada participante em seu problema afastou-o ou aproximou-o dos outros? Se hove momentos excitantes, a que eles se deveram? Puderam os observadores, de alguma forma, se identificar com os atores? Tentaram os participantes se controlar e se relacionar com os demais o mais normalmente possível? Ou as comunicações foram vagas e difusas? Quem esteve confuso e embaraçado? Conseguiu o analista fazer com que as pessoas trabalhassem juntas? Houve muita dispersão ou o grupo conseguiu se manter em torno de certos tópicos?

COMENTÁRIOS - a locura raramente é a inabilidade em escolher entre várias possibilidades alternativas; muito mais frequentemente, loucura significa ver as coisas somente ou predominantemente por um prisma ou um ponto de vista muito particular. Quando você for analisar os objetivos de um pesonagem que tenha problemas psicológicos, tente não vê-lo "de fora", esquematizando-o simplisticamente ao redor de alguns sintomas. Ao contrário, confie na lógica "ilógica" do personagem, e simplesmente desempenhe seu papel como você o faria, caso o mesmo fosse "normal". Fique alerta para o que se passa à sua volta. E atenção: resista ao impulso de criar um "grande drama" e - pelo amor de Deus - evite a tentação de desempenhar seu papel como se fosse um débil mental! Procedendo assim - tentando apenas confirmar preconceitos e visões estereotipadas vigentes - o que você vai conseguir é ofender a sensibilidade da audiência. Procure, ao contrário, a força e beleza existentes no papel, imbuindo o personagem de um sopro humano.

Devido a uma certa unicidade de demandas, desempenhar um papel deste tipo é uma das tarefas mais difíceis em teatro. Mas não se desespere. A primeira coisa a fazer é descobrir um modo de desempenhar os "sintomas" do personagem, as condições sob as quais ele age, bem como suas necessidades e aspirações. O maior perigo - a ser evitado - é o de deixar os sintomas crescerem a tal ponto que suplantem todo o resto e façam-no "esquecer" qual seria o conflito real do pesonagem, e o seu relacionamento com os demais personagens. Isto é muito importante: os sintomas não devem substituir o conflito; ao contrário, eles devem ajudá-lo a acentuar os obstáculos a serem removidos na relação com os outros personagens e com os objetivos da peça. É claro que os sintomas vão modificar o modo pelo qual o personagem vai observar, pensar e agir.

OBS: além de ver o mundo de apenas uma maneira singular, pessoas sob forte pressão mental, em geral, evidenciam certos problemas "físicos" ou somatizações: problemas motores, constipação, descuido pela aparência, aceleração ou lentidão de movimentos etc. Aborde este problema do mesmo modo que o outro.

CONCLUSÃO - observe, por exemplo, como os principais personagens de Os rapazes da banda reagem às circunstâncias e eventos que os rodeiam. Nesta peça cada personagem é dono de uma certa unicidade, de um modo de ser particular, embora sejam todos homossexuais. Lembre-se que a sua tarefa é dar à audiência a impressão de que você quer o que o seu personagem quer, da maneira que o seu personagem quer! Escolha, por exemplo, certas tarefas reais que você possa executar simplesmente. Se você fez mais do que o suficiente para satisfazer as necessidades do personagem, você está deturpando o seu papel. Você, no palco, não está representando um bêbado, um viciado, um homossexual, um neurótico. Você está representando um ser humano X, que é bêbado, ou um ser humano Y que é viciado, ou um ser humano Z que é neurótico etc. Caso contrário, todos os bêbados, todos os neuróticos em todos os palcos e em todas as peças seriam representados da mesma forma! Veja seu personagem como um todo, e não como um estereótipo. É claro que todos esses tipos têm características comuns, que servem inclusive para diferenciá-los dos que não são viciados ou neuróticos. Mas isto não justifica uma abordagem estereotipada e rígida. Em resumo, procure ver seu personagem como dotado de uma grande dignidade humana, da mesma maneira, aliás, que você teria de fazer caso o personagem escolhido fosse você mesmo, como você se comporta e se relaciona na sua própria vida.

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Artigo publicado na revista Cadernos de Teatro nº 82/1979
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