quinta-feira, 24 de junho de 2010

Quem é você?

Eugenio Barba

Eu penso o teatro como um corpo que perde continuamente sangue. Algumas vezes em que ele vai para as ruas e reencontra a realidade, ele recebe golpes, perde sangue através de feridas que não cicatrizam. O corpo do teatro não pode viver de seu próprio sangue. Sua hemofilia exige que ele se alimente do sangue que vem de outros corpos. Ele tem sempre necessidade de novo sangue, ele não pode sobreviver por ele mesmo.

Existe um teatro hemofílico que nega sua condição: de uma beleza diáfana, em sua torre de cristal, ele é cercado de magistrados e exegetas que o proclamam eterno e empreendem operações de revigoramento através de diágnósticos e teorias. Mas existe um teatro consciente de suas hemorragias, que se afasta do círculo protetor dos sábios e parece se perder em uma realidade que o ignora e o degrada, um teatro que não sabe o que fazer, e que, em colisão com a realidade, sangra.

Você perde sangue, mas se você se recusa a ficar estendido em uma maca, você transpõe uma fronteira que conduz a uma espécie de terra-de-ninguém: atrás de você, se estende o território do teatro; diante de você, uma outra fronteira. Você ignora para qual território ela te leva. Você avança prudentemente, mas com obstinação.

Eventualmente, teus passos te fazem recuar, na direção da fronteira do teatro, e então os sábios e os magistrados sorriem, aliviados. Às vezes, você parece prestes a desaparecer no horizonte e teu destino se afigura como incompreensível. Afinal, quem é você? Um solitário que desaparece no deserto ou alguém que, avançando, e ainda que se perdendo, chega a traçar uma pista?

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Este fragmento foi extraído do livro "L'étranger qui danse" (Maison de la Culture de Rennes et Odin Teatret ApS/1977), e leva a assinatura do diretor do Grupo Odin. A tradução e o título ficaram por conta do crítico de Teatro, Lionel Fischer.

sábado, 5 de junho de 2010

MIT - Mostra Internacional de Teatro 2010

De volta aos palcos do CCBB RJ, a MIT 2010 é uma parceria com o FILO – Festival Internacional de Teatro de Londrina, que neste ano comemora sua 42ª edição. Espanha, Estados Unidos, Chile e França são os países que estarão presentes na mostra, durante todo o mês de junho:


Programação

De 04 a 06 de junho | Cia. Red Moon (EUA), “The Gabinet” | Cia. Redmoon
Inspirado no filme O Gabinete do Dr. Caligari, clássico do expressionismo alemão, quando ainda não havia som no cinema. Conta a história de um sonâmbulo que cai nas mãos de um médico maníaco, num manicômio. A peça mistura marionetes, acrobacias e interpretação.
Classificação indicativa: 14 anos

De 11 a 13 de junho | Cia. Marta Carrasco (Espanha), “Dies Irae”
Baseado no Réquiem, de Mozart, o espetáculo conta com 15 atores, bailarinos e cantores espanhóis, que desnudam a liturgia e mostram, sem concessões, a debilidade da verdade, indo muito além da missa fúnebre.
Classificação indicativa: 14 anos

De 18 a 20 de junho | Cia. Teatro Inmóvil (Chile), “El Ultimo Herdero”Um menino, sua mãe, a água, o deserto, uma planta mágica, um povo em guerra... Um conto fantástico sem palavras, onde as marionetes, as acrobacias aéreas, a dança e a música proporcionam uma viagem original dentro do mundo insólito de um menino soldado
Classificação indicativa: 12 anos

De 25 a 27 de junho | Cia. Le Trois Clés (França/Chile), “Gigantea”
O espetáculo mistura atores, marionetes e bonecos manipulados pelos atores em cena. Conta a história de Nepomuceno, um ancião vassalo do rei de Espanha, que chega ao Chile colonial com sua jovem esposa Dolores, como herdeiro de terras e criações de cavalos.
Classificação indicativa: 14 anos

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