Vamos à clássica questão: montar ou não os clássicos. Embora sabendo que ninguém me perguntou nada, resolvi contribuir com minha modesta opinião. Primeiro, um pequeno resumo de prós e contras. De um lado, estão os que defendem que um texto clássico não pode dar conta das questões modernas, pois só uma dramaturgia contemporânea poderia dizer alguma coisa ao homem contemporâneo.
De outro, os que defendem que o texto realmente clássico atingiu tal posto por sua infinita capacidade de surpreender o Cronos; que seus autores foram geniais o suficiente para levantar questões tão profundamente particulares da alma humana que seus escritos ultrapassam qualquer barreira do tempo.
Normalmente, essa polêmica surge na periferia de uma discussão sobre a ausência de público nas casas de espetáculo. Ou seja: ele iria mais ou menos ao teatro se houvesse mais ou menos textos clássicos ou contemporâneos. Nesse momento, sempre me vem à cabeça uma pergunta que me acompanha há muito: o que o público vai procurar no teatro?
É inegável o fascínio do homem por ouvir e contar histórias, desde a pré-história. Através dos tempos, o ser humano criou diferentes formas de contá-las, começando com as pinturas nas cavernas, passando por poesia, teatro, literatura, quadrinhos, cinema, rádio, televisão, CD-ROM, enfim: diferentes veículos com o mesmo objetivo - contar histórias.
Cada uma dessas formas foi desenvolvendo seus atrativos particulares, de modo que o fruidor divide seu prazer entre conhecer a história propriamente dita e o modo como ela está sendo contada. Tais especificidades foram surgindo não como tentativa de fazer com que um veículo suplantasse os demais, mas como forma de criar alternativas.
Uma história como a de Carmem, por exemplo, ganhou versões para ópera, teatro, dança novela e quadrinhos - para falar das que eu conheço -, sendo que cada uma delas busca seus atrativos específicos. Como o meu veículo é o teatro, minha preocupação é a seguinte: qual é o atrativo específico do teatro? O que só ele pode fazer?
Será que o específico do teatro está em contar novas ou velhas histórias? Modestamente, acho que não. Por isso, montar ou não um clássico me parece uma falsa questão. Até porque, em quase toda discussão sobre se o que se deve fazer no teatro é isto ou aquilo, sempre defendo que o que deve ser feito é isto e aquilo.
O panorama teatral carioca possui provas vivas do que digo. Citando apenas alguns exemplos: Domingos Oliveira vem realizando trabalho exepcional no Teatro do Planetário, trabalhando sempre com damaturgia contemporânea; da mesma forma que Ernesto Piccolo que, em parceria com Rogério Blat, desenvolve produções mais voltadas para o público jovem, conseguindo, também, ótimos resultados.
Em contrapartida, o clássico Macbeth, de William Shakespeare, além de já ter sido transformado em ópera, balé, filme (pelo menos uma meia dúzia), ganhou em 1996 mais três versões: uma da Companhia do Gesto, com seis atores; outra, do TUERJ, com 71 intérpretes; e uma terceira dirigida pelo articulista que vos fala, com somente três atores. As duas primeiras cumpriram boas carreiras em teatros da cidade. A terceira, por enquanto, só pôde ser vista no circuito universitário e em festivais como o de Canela (RS) e João Pessoa (PB), mas em breve estará em temporada no Rio de Janeiro.
Todas, com certeza, têm seus atrativos. Elas não competem entre si, nem tampouco com a chamada dramaturgia contemporânea. São, simplesmente, espetáculos, e, como tais, tentam atrair o público oferecendo aquilo que só o teatro pode dar. Mas...o que seria isso? Lá vem a bendita pergunta que me persegue: o que o público procura no teatro? Qual a sua especificidade? O que só o teatro pode oferecer?
As respostas, cada um de nós, artistas, vem tentando encontrá-las em seus espetáculos. Uma coisa, porém, é certa: quanto mais nos aproximamos delas, mais nos aproximaremos do público e, como num eficiente balcão de Achados e Perdidos, encontraremos, para a nossa clientela, o que ela foi procurar.
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Artigo escrito em 1996 e extraído do jornal Boca de Cena nº 9.
De outro, os que defendem que o texto realmente clássico atingiu tal posto por sua infinita capacidade de surpreender o Cronos; que seus autores foram geniais o suficiente para levantar questões tão profundamente particulares da alma humana que seus escritos ultrapassam qualquer barreira do tempo.
Normalmente, essa polêmica surge na periferia de uma discussão sobre a ausência de público nas casas de espetáculo. Ou seja: ele iria mais ou menos ao teatro se houvesse mais ou menos textos clássicos ou contemporâneos. Nesse momento, sempre me vem à cabeça uma pergunta que me acompanha há muito: o que o público vai procurar no teatro?
É inegável o fascínio do homem por ouvir e contar histórias, desde a pré-história. Através dos tempos, o ser humano criou diferentes formas de contá-las, começando com as pinturas nas cavernas, passando por poesia, teatro, literatura, quadrinhos, cinema, rádio, televisão, CD-ROM, enfim: diferentes veículos com o mesmo objetivo - contar histórias.
Cada uma dessas formas foi desenvolvendo seus atrativos particulares, de modo que o fruidor divide seu prazer entre conhecer a história propriamente dita e o modo como ela está sendo contada. Tais especificidades foram surgindo não como tentativa de fazer com que um veículo suplantasse os demais, mas como forma de criar alternativas.
Uma história como a de Carmem, por exemplo, ganhou versões para ópera, teatro, dança novela e quadrinhos - para falar das que eu conheço -, sendo que cada uma delas busca seus atrativos específicos. Como o meu veículo é o teatro, minha preocupação é a seguinte: qual é o atrativo específico do teatro? O que só ele pode fazer?
Será que o específico do teatro está em contar novas ou velhas histórias? Modestamente, acho que não. Por isso, montar ou não um clássico me parece uma falsa questão. Até porque, em quase toda discussão sobre se o que se deve fazer no teatro é isto ou aquilo, sempre defendo que o que deve ser feito é isto e aquilo.
O panorama teatral carioca possui provas vivas do que digo. Citando apenas alguns exemplos: Domingos Oliveira vem realizando trabalho exepcional no Teatro do Planetário, trabalhando sempre com damaturgia contemporânea; da mesma forma que Ernesto Piccolo que, em parceria com Rogério Blat, desenvolve produções mais voltadas para o público jovem, conseguindo, também, ótimos resultados.
Em contrapartida, o clássico Macbeth, de William Shakespeare, além de já ter sido transformado em ópera, balé, filme (pelo menos uma meia dúzia), ganhou em 1996 mais três versões: uma da Companhia do Gesto, com seis atores; outra, do TUERJ, com 71 intérpretes; e uma terceira dirigida pelo articulista que vos fala, com somente três atores. As duas primeiras cumpriram boas carreiras em teatros da cidade. A terceira, por enquanto, só pôde ser vista no circuito universitário e em festivais como o de Canela (RS) e João Pessoa (PB), mas em breve estará em temporada no Rio de Janeiro.
Todas, com certeza, têm seus atrativos. Elas não competem entre si, nem tampouco com a chamada dramaturgia contemporânea. São, simplesmente, espetáculos, e, como tais, tentam atrair o público oferecendo aquilo que só o teatro pode dar. Mas...o que seria isso? Lá vem a bendita pergunta que me persegue: o que o público procura no teatro? Qual a sua especificidade? O que só o teatro pode oferecer?
As respostas, cada um de nós, artistas, vem tentando encontrá-las em seus espetáculos. Uma coisa, porém, é certa: quanto mais nos aproximamos delas, mais nos aproximaremos do público e, como num eficiente balcão de Achados e Perdidos, encontraremos, para a nossa clientela, o que ela foi procurar.
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Artigo escrito em 1996 e extraído do jornal Boca de Cena nº 9.