sábado, 16 de maio de 2009

Etapas de uma montagem

Bertolt Brecht

1. Análise da peça - destrinchar quais são, no plano social, as noções e impulsos mais importantes que a peça quer fazer ver. Resumir a intriga em meia página. Em seguida, subdividir a intriga em seus diversos incidentes, determinar os acontecimentos essenciais que fazem progredir a ação. Enfim, destrinchar o que há de comum entre os incidentes, sua construção. Refletir sobre as vias e meios que facilitam a narração da intriga e revelam seu significado social.

2. Primeiro Exame - intenção fundamental. Há solução de continuidade? Cenários para cada cena ou ato separadamente? Esboços do que seria a intriga, grupamento, atitudes específicas dos personagens principais.

3. Distribuição - provisória se possível. Tomando em consideração, se for necessário, nas mudanças, o interesse do ator.

4. Primeira Leitura - os atores lêem com o mínimo de expressão e de caracterização: tomam antes de tudo conhecimento da peça. Amplificação da análise.

5. Marcação - os principais acontecimentos se transcrevem provisoriamente sem muita retidão, nas posições e movimentações. Tentam-se pequenos movimentos cá e lá. Os atores podem experimentar o que lhes vem à cabeça. As indicações de tom são dadas ao mesmo tempo que as atitudes e os gestos. Os caracteres podem começar a aparecer sem aspirar continuidade.

6. Ensaios com Cenários - nos primeiros ensaios de marcação, os projetos de cenários são transferidos para o palco, de maneira que os atores possam se identificar com eles o mais rápido possível: quanto mais cedo os atores ensaiarem com o cenário, melhor. A partir daí, tudo que for necessário à representação deve ser utilizado (muros, praticáveis, portas, janelas etc.). Daí por diante, não se deve mais ensaiar sem os acessórios.

7. Ensaios Parciais - sem se incomodar com o ritmo a ser adquirido, cada detalhe deve ser repetido. O ator estabelece a atitude de seu personagem e se familiariza em relação aos outros e se familiariza com ele. Quando os acontecimentos principais tomarem um pouco de forma, o trabalho dirige-se então às transições, que reclamam um cuidado particular.

8. Encadeamento - o que os ensaios de detalhes haviam desconjuntado, é agora acertado. Não se trata de ritmo, mas da continuidade.

9. Roupas e Maquiagem - quando as cenas tomam forma e os personagens se afirmam é preciso discutir os figurinos. Em seguida executá-los. Desde o princípio já deveriam ensaiar de salto alto, saias compridas, casacos, óculos etc.

10. Ensaio de Verificação - exame repetido com a finalidade de verificar se as noções mais importantes e os impulsos sociais da obra "passam". Se a peça funciona. Trabalho meticuloso, de limpeza. É recomendável controlar as cenas por meio de fotografias.

11. Ensaio de Ritmo - é preciso então se fixar no ritmo. Ajustar a duração das cenas. Será melhor fazer esses ensaios de ritmo já com os figurinos, porque o primeiro uso dos trajes sempre afrouxa um pouco.

ENSAIOS GERAIS

I - a peça é revista sem interrupções.

II - pré-estréia: verificações das reações do público - membros de uma sociedade, estudantes etc., que tornam possível uma discussão a respeito da peça. Entre duas pré-estréias se intercalam ensaios de verificação, onde se põe em prática as experiências adquiridas durante as últimas apresentações.

III - primeira apresentação oficial. Com ausência do diretor, a fim de que os atores possam se movimentar sem controle.
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Artigo extraído da revista Cadernos de Teatro nº 119/1988, edição já esgotada)
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