sexta-feira, 1 de maio de 2009

IN ON IT



Em inglês mesmo, parece sugerir uma charada. O título da peça tem algo de incapturável que de certo modo reflete o jogo da dramaturgia de Daniel MacIvor. A trama da peça, uma vez revelada, não se mostra por inteiro, sem lacunas. Aliás, a graça está nas lacunas. E o título original faz essa brincadeira, deixa uma pergunta, um vazio. O “it” é sempre um problema pra traduzir: ou se diz o que ele omite, ou se omite o próprio “it”. Seria preciso achar um título em português que desse a sensação de mistério, de algo faltando. Usar o título original era uma solução: tem algo escondido ali, tanto pra quem fala quanto pra quem não fala inglês.

A expressão “in on alguma coisa” quer dizer estar envolvido, estar por dentro, é quase um “ter culpa no cartório”, mas não chega a tanto. Pode ter uma conotação de ilegal ou, pelo menos, suspeito. Indica uma espécie de envolvimento que sugere uma responsabilidade, uma participação. A dramaturgia guarda isso, esse trunfo, até o fim: não se trata apenas de contar uma história que aconteceu com um personagem, mas de perceber o que move o outro personagem a contar essa história: ele está totalmente “in on it”. Assim, “in on it” é quase um estado, um ponto de partida e uma motivação. Difícil achar um título em português que tivesse tanta carga de significado em tão poucas letras.

Não é tão incomum manter o título original quando se trata de cinema, por exemplo: Pierrot le fou do Godard é Pierrot le fou na França, no Brasil, nos Estados Unidos e em qualquer lugar. Assim como Platoon ou La Dolce Vita. E ninguém se refere a Pulp Fiction como Tempo de violência. Alguns títulos são parte da obra, dão o tom da dinâmica de sua forma. É o caso de In on it.

(Daniele Avila)
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IN ON IT - Texto de Daniel Macivor. Direção de Enrique Diaz. Com Fernando Eiras e Emílio de Mello. Oi Futuro. Sexta a domingo, 19h30.
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